Medo da Paixão.


Eu tenho medo de me apaixonar. Medo de sofrer o que não estou acostumada. Medo de me conhecer e esquecer outra vez. Medo de sacrificar a amizade. Medo de perder a vontade de trabalhar, de aguardar que alguma coisa mude de repente, de alterar o trajeto para apressar encontros. Medo se o telefone toca, se o telefone não toca. Medo da curiosidade, de ouvir o nome dele em qualquer conversa. Medo de inventar desculpa para me ver livre do medo. Medo de me sentir observada em excesso... Não suportar ser olhada com esmero e devoção. Eu tenho medo de me apaixonar por mim mesma logo agora que tinha desistido da minha vida. Medo de enfrentar a infância, medo de ser a última a vir para a mesa, a última a voltar da rua, a última a chorar. Tenho medo de me apaixonar e não prever o que pode sumir, o que pode desaparecer. Medo de me roubar para dar a ele, de ser roubada e pedir de volta. Medo de que ele seja um canalha, medo de que seja um poeta, medo de que seja amoroso, medo de que seja um pilantra, incerta do que realmente quero, talvez todos em um único homem, todos um pouco por dia. Medo do imprevisível que foi planejado. Medo de que ele seja o homem certo na hora errada, a hora certa para o homem errado. Medo de se ultrapassar e se esperar por anos, até que euantes disso e eu depois disso possam se coincidir novamente. Medo de largar o tédio, afinal eu e o tédio enfim nos entendiamos. Medo de que ele inspire a violência da posse, a violência do egoísmo, que não queira me repartir com mais ninguém, nem com meu passado. Medo de que não queira se repartir com mais ninguém, além dele. Medo de que ele seja melhor do que minhas respostas, pior do que as minhas dúvidas. Medo de ser destruída, aniquilada, devastada e não reclamar da beleza das ruínas. Medo de ser antecipada e ficar sem ter o que dizer. Medo de não ser interessante o suficiente para prender a atenção dele... ...Medo da independência dele, da algazarra, de sua facilidade em fazer amigas. Medo de que ele não precise de você. Medo de ser uma brincadeira dele quando fala sério ou que banque o sério quando faz uma brincadeira. Medo do cheiro das roupas. Medo do cheiro nos cabelos. Medo de não respirar sem recuar. Medo de que o medo de entrar no medo seja maior do que o medo de sair do medo. Medo de que a alegria seja apreensão, de que o contentamento seja ansiedade. Medo de convidá-lo a entrar, medo de deixá-lo ir. Medo da vergonha que vem junto da sinceridade. Medo da perfeição que não interessa. Medo de machucar, ferir, agredir para não ser machucada, ferida, agredida. Medo de estragar a felicidade por não merecê-la. Medo de não mastigar a felicidade por respeito. Medo de passar pela felicidade sem reconhecê-la. Medo do cansaço de parecer inteligente quando não há o que opinar. Medo de interromper o que recém iniciou, de começar o que terminou. Medo de faltar as aulas e mentir como foram. Medo do aniversário sem ele por perto, dos bares e das baladas sem ele por perto, do convívio sem alguém para se mostrar. Medo de enlouquecer sozinha. Não há nada mais triste do que enlouquecer sozinha. Eu tenho medo porque já estou apaixonada.

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