Desculpa. Sei que soa esquisito começar um texto pedindo desculpa, mas desculpa mesmo. Ando um pouco cansada de gente vazia e sem assunto. Brincar é bom, legal, saudável, deixa a vida mais leve e é importante conservar o lado infantil. Eu tenho um lado infantil. Desculpa de novo: eu tenho lados infantis. Adoro todos eles, assim como adoro ver desenho e adoro meia colorida e adoro falar besteira e adoro brigadeiro e adoro parque de diversões e adoro bichinho de pelúcia e adoro canetas super-mega-coloridas-demais-e-com-pelinhos-e-cheirinhos-e-glitterzinhos. Confesso, também adoro levar a minha sobrinha de dez anos ao cinema e adoro sentar no chão e jogar stop e aqueles joguinhos de crianças e sim, eu tenho paciência de brincar de Barbie, faço casinha pra Barbie, a Barbie troca de roupa várias vezes, modelito bonito é essencial nas brincadeiras. Tenho lados infantis, eu avisei. Desculpa.


O fato é que a adultez vai tomando conta, lá sei que tem espaço pra tudo que eu adoro e pra todos os meus olhares e jeitos e trejeitos e reações e pensamentos infantis. Outro fato: eu disse que tem espaço, só que não é todo o espaço. Justamente por isso tenho pensado na atitude das pessoas. Eu amo falar bobagem, pensar bobagem, escrever bobagem, criar bobagem, mas só bobagem me cansa. E eu ando cansada de pessoas-bobagem. Quero alguém que me acrescente, que ria, que seja ao mesmo tempo adulto e criançola. Papo vazio enche o saco. Futilidade 100% me dá sono.

Aparências. Não gosto dessa palavra, chego a ficar arrepiada. Não sei viver disso, assim, dessas formas. Explico. Muita gente que eu conheço vive de aparências, mantém amizades pra tirar vantagens, não gosto de pessoas-interesseiras-que-mantém-gente-ao-lado-porque-no-futuro-quem-sabe-talvez-nunca-se-sabe-vou-precisar-de-você. O ser humano, por natureza, precisa de outro ser humano. Pra não enlouquecer, pra dividir, pra somar, pra multiplicar, pra se doar, pra aprender sobre si, sobre o outro, sobre tudo, sobre a vida, sobre o mundo. Só que a gente tem que ser por ser, tem que viver e conviver com os outros por gosto, não por esporte. A aparência, ou melhor, manter as aparências (inclui aí aquela politicagem da boa vizinhança, sorrisinho, conversa mole, papo azedo) nada mais é do que esporte. E tem gente que faz disso Olimpíada, com direito a medalha e tudo mais.

Desculpa, não sou assim. Só sei ser inteira com quem me rodeia. Isso, meu amigo, tem o seu preço. Isso, minha amiga, faz com que a gente ganhe aquela palavra chata e abusada: rótulo. Não gosto de rótulos, gostaria de saber quem inventou isso. Eu sei, nunca vou descobrir, mas posso (será?) me rebelar contra quem rotula. Procuro não rotular, não sair por aí apontando o dedo e dizendo que o Beltrano é isso ou aquilo, faz assim ou assado. Deixa ele, ora. Cada um tem o seu jeito, assim como você tem o seu, eu tenho o meu e se existe sintonia é simples e se não existe é complicado.

Ando fora-de-sintonia com gente sem assunto. Na verdade é um cansaço, falta de vontade de estar perto de quem acha que a-vida-é-festa-pode-entrar-e-fazer-barulho. Faça barulho, mas faça silêncio. Ele é precioso, um grande professor. Na verdade, parte II: acho que ando é desiludida com a superficialidade das relações. Gosto do profundo, do que dá pra tocar, do que não dá pra tocar, do que dá pra pensar, do que é impensável, do que eu entendo e do que nunca vou entender. Mas aí é que tá: eu gosto de refletir sobre. Sobre qualquer coisa. E gente que só sabe brincar não sabe a hora de parar. Tem que ter a hora do stop, é importante, afinal tudo tem limite. Menos as minhas reflexões.

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