Eu queria enfiar a cabeça dele na privada e dar descarga. Ao mesmo tempo que eu queria a liberdade de nadar naquela água suja.


Eu disse não. Mandei ele ir embora. E ria, trincava os dentes, estalava os dedos, mudava a voz o tempo todo, que voz quero usar, o que quero ser, que coisa é essa que tenho que tirar de mim se não sei nem de onde tiro e nem pra onde vai depois. Quase ajoelhei pra pedir que ele saísse da minha frente. Aquela força toda, aquele homem todo e eu dizendo não, me deu uma pena de mim. Eu não dizia não porque não queria ou porque queria. Eu dizia não porque, nossa...

E ele segurou meu braço. Ficou me olhando, olhando, olhando. Como se dissesse, você nem pensa nada disso na verdade. Como se dissesse, não valorize demais, nem a mim, nem a você. Porque era o que na verdade, no fundo, eu estava fazendo, me valorizando demais. Eternamente intocável no meu personagem que nunca merece. Seus olhos tinham um estampado de vamos acabar logo com isso. Como se fosse uma doença o que pegamos no outro hotel, no bar. E agora, inevitavelmente, assim como ele, que combinássemos de nos curar juntos.

E eu disse não. Eu disse não para ele e seus mil anos e mil sexos e mil cigarros e mil bebidas e mil homens e mil mulheres e mil tranquilidades e mil mundos e mil encoxadas. Eu era uma dizendo não para mil. Eu estava dizendo não para o homem inevitável. A única espécie de ser que jamais pode ouvir não...

E eu, que pena, disse não porque se dissesse sim não teria a menor ideia do que fazer com aquilo tudo. Com tudo o que ele representava.
 
Mas, ele me convenceu que sou merecedora de tudo que ele pode me oferecer.

Um comentário:

  1. Olá,
    Muito legal esse seu texto!
    Me identifiquei bastante...
    Estamos te seguindo!
    Visita o nosso tb.
    Bjão ;)

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